quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Empresas lançam mão de férias ilimitadas para estimular funcionários



Num esforço para estimular a criatividade dos funcionários, reduzir a rotatividade e evitar o esgotamento, algumas empresas nos Estados Unidos estão oferecendo aos empregados o benefício máximo: férias ilimitadas. Ao mostrar que confiam em seus funcionários, dizem os empregadores, acreditam estar cultivando uma cultura de confiança ainda mais profunda. Embora a prática ainda seja experimental, essas empresas dizem que até agora constataram poucos abusos do sistema, revela artigo publicado pelo Wall Street Journal.

A Red Frog Events, uma organizadora de entretenimentos de fim de semana sediada em Chicago, não monitorou os dias de férias tirados pelos empregados desde suas primeiras contratações, há cerca de dois anos. Muitos de seus 80 empregados “tiram dois ou três dias aqui e ali” para recarregar as energias ou cumprir obrigações pessoais, tais como ir ao casamento de um amigo; mas ninguém abusou da política da empresa de férias ilimitadas, diz a diretora de recursos humanos, Stephanie Schroeder.

As férias ilimitadas são oferecidas em geral em empresas menores, onde os horários são mais fáceis de coordenar, mas ainda assim é um benefício relativamente raro, dizem os especialistas. Atualmente, apenas 1% dos empregadores oferece esse benefício, de acordo com o Levantamento de Benefícios dos Empregados de 2012 feito pela Sociedade de Gestão de Recursos Humanos dos Estados Unidos, que entrevistou 550 profissionais de RH. A maioria das empresas oferece um período de férias fixo: o trabalhador americano mediano de tempo integral recebeu 2,6 semanas de férias no ano passado, segundo uma pesquisa de 465 mil trabalhadores realizada pela PayScale, firma que coleta dados sobre remuneração.

No Brasil, são concedidos 30 dias de férias, que podem ser usufruídos integralmente ou divididos em dois períodos em algumas empresas. De acordo com a legislação trabalhista, o trabalhador brasileiro pode ainda vender 10 dias e receber o equivalente a esse período em dinheiro, e folgar os 20 restantes.
Jay Jamrog, vice-presidente sênior de pesquisas do Instituto para a Produtividade Empresarial, uma organização de pesquisas, diz que o tempo de férias ilimitado é uma forma de baixo custo de ganhar a lealdade dos funcionários, e pode ajudar a compensar fatores como baixos salários, congelamento salarial ou perda de bonificações. Segundo ele, adotar essa política envia a mensagem de que a empresa valoriza o bem-estar dos funcionários e o equilíbrio entre o trabalho e a vida particular.
“É principalmente uma questão de imagem”, diz ele.
Mesmo assim, essa política não é uma boa opção para qualquer empresa, diz Jamrog, e os empregadores devem proceder com cautela:

“Você tem que ter uma cultura de alta confiança. Se essa cultura não existir, posso imaginar o quanto as pessoas vão abusar do sistema.”
Gerente de recrutamento e seleção da Personal Service, Sonia Norões entende que as férias ilimitadas podem ser uma alternativa, sim, para as empresas estimularem e reterem seus colaboradoras, mas é válida para um pequeno grupo de profissionais e com um objetivo específico. Aqui no Brasil, ainda não é uma prática comum:

— O funcionário ter direito a férias remuneradas ilimitadas requer maturidade e profissionalismo, que, infelizmente, nem sempre encontramos no nosso mercado de trabalho.
Na opinião de Sonia, as empresas correm o risco de o profissional confundir a confiança que esse benefício propõe com libertinagem, ou seja, liberdade sem bom senso.
— Sinceramente, acredito que poucos grupos de profissionais estejam prontos no Brasil para receber esse benefício. Um mercado de trabalho em que, frequentemente, escutamos uma negativa em uma boa proposta de trabalho para que seja aproveitado o seguro desemprego, reflete um mercado imediatista. Claro que isso ocorre, predominantemente, em um nível profissional mais operacional, mas esse comportamento sugere que a população, culturalmente, está preocupada em usufruir as melhores condições de um benefício no momento, independente do futuro.

Em entrevista ao Wall Street Journal, Dov Seidman, diretor-presidente da firma de consultoria de serviços LRN, reconhece que desde que a empresa introduziu férias ilimitadas, há três anos, alguns funcionários “tomaram decisões erradas” e perderam reuniões para tirar uma folga. Mas esses erros são raros, diz ele, e “ninguém nunca se ausentou por quatro semanas, por exemplo”.
Seidman diz que, como resultado dessa política adotada pela empresa, seus cerca de 300 funcionários ficaram mais ponderados e atenciosos em relação às folgas. E muitos agora se sentem obrigados a verificar a situação de férias dos colegas antes de marcar suas folgas, acrescenta.
A produtividade também não sofreu impacto. Antes da nova política, os funcionários tiravam, em média, três semanas de férias por ano, número que continuou inalterado, diz Seidman:
“As pessoas ficam muito mais honestas e responsáveis quando confiamos nelas”.



Nenhum comentário: