segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Não tenha medo das entrevistas de emprego


Final de ano pode ser sinônimo de emprego novo. Não só pelas datas comemorativas, mas também porque se inicia um novo ciclo nas grandes empresas - muitos processos seletivos para vagas de trainee e estágio são abertos, e contratações para o ano seguinte já começam a ser negociadas. Mas, para muita gente, é tempo de ficar apreensivo com as seleções.

Nem o mais desenvolto dos candidatos consegue fugir à regra. Quem nunca passou por um processo seletivo do qual saiu absolutamente envergonhado porque teve que fazer algo “ridículo”? Em algumas dinâmicas de grupo, os candidatos se vêem obrigados a cantar, em outras são convidados a encenar alguma situação, e ainda há processos em que as pessoas são submetidas a intensos interrogatórios. Mas, no fim das contas, o que se deve ter sempre em mente é: encare tudo com normalidade e não é preciso ficar nervoso.

Jacqueline Resch, sócia-diretora da Resch Recursos Humanos, empresa que recruta e seleciona executivos, afirma que é normal algumas companhias colocarem os candidatos sob pressão. Elas acreditam que assim podem melhor avaliar aquela pessoa. Mas, segundo ela, colocar sob pressão e constranger são coisas totalmente diferentes - e algumas das técnicas que são usadas hoje tornam-se extremamente desnecessárias na hora de avaliar um candidato.

“Eu digo o seguinte: você primeiro tem que saber o que está buscando”, diz Jacqueline. “Muitas pessoas contestam exercícios e dinâmicas de grupo que colocam os candidatos em situações constrangedoras. A verdade é que muitos desses processos não são necessários para avaliar pessoas. As dinâmicas não são e nem devem ser exercícios gratuitos.”

Não facilita também para o candidato o senso comum de que seleções são mesmo constrangedoras e que a pessoa tem que passar por aquilo para ser escolhida. ”Quem está avaliando, porém, tem que saber porque está propondo as atividades para o candidato. As técnicas não podem ser usadas simplesmente porque são bacanas, modernas”, diz. O grande diferencial de uma seleção bem feita, para ela, é quando o profissional de Recursos Humanos não perde de vista que seu objetivo, ali, é simplesmente avaliar competências.

Mas e quando a seleção, ao invés de constrangedora, deixa o candidato visivelmente desconfortável? Apesar de a situação ser chata, em alguns casos ela é necessária - principalmente quando se fala em seleções para cargos de chefia. O coordenador comercial Luiz Fabiano Labadeça passou recentemente por um processo desses: depois de ser avaliado por um profissional de Recursos Humanos, foi submetido a um teste de ética que, segundo ele, foi bastante invasivo - apesar de justificável.

“Fui levado para uma salinha e uma mulher começou a me fazer uma série de perguntas. Ela me olhava no fundo do olho. Perguntava, eu respondia e aí ela ficava em silêncio e começava a contestar as respostas, como num interrogatório”, diz Labadeça. “‘Você roubaria?’, me perguntava, e eu respondia que não. ‘Por que não?’, ela rebatia, ‘E se seu pai estivesse morrendo e você soubesse que podia pegar dinheiro da empresa. Você pegaria?’ Isso tudo vai minando a pessoa. Você sai de lá estarrecido, bravo.”

Quem aplicou o teste de ética foi a ICTS, uma empresa israelense de gestão de riscos em negócios que atua junto com o RH de grandes companhias na hora de fazer as seleções. O empresário Marcelo Forma, sócio-diretor do braço brasileiro, porém, afirma que tudo é feito de maneira responsável.

“Mas tem que ficar claro que aquilo não é simplesmente uma entrevista de emprego. Nossa seleção é feita pela análise de um especialista em linguagem corporal. Ele consegue detectar se a pessoa está escondendo alguma informação. Simplesmente abordamos respostas e pontos de vista que a pessoa colocou ao longo do processo todo; aquilo que causou dúvida é melhor explorado durante a entrevista individual”, diz Forma.

Essas entrevistas, segundo Forma, são feitas por pessoas treinadas durante mais de um ano - profissionais egressos de forças armadas, psicólogos, advogados, etc. “Mas de maneira alguma é um processo agressivo. Não é um interrogatório”, diz. Além disso, os entrevistadores são treinados por agentes do serviço secreto e da polícia federal americanos (CIA e FBI) para poderem analisar linguagem corporal e até mesmo a escrita do candidato. “Quando o ser humano fala a verdade, ele acessa a memória em seu cérebro. Na mentira ele acessa a imaginação, e isso tudo eles conseguem identificar por causa desses treinamentos”, afirma Forma.

Mas se tudo isso já fez o estômago embrulhar só de pensar na possibilidade de ser entrevistado por esse pessoal, Labadeça - que no fim das contas acabou aprovado - afirma que não há o que temer. “Não é um bicho de sete cabeças. É um processo invasivo, complicado, mas não é algo que mudou minha vida. Serviu para ficar esperto e atento ao que a empresa espera de mim”, diz. “Sim, em alguns momentos achei desnecessário quando estava lá, mas agora vejo que ele serve para medir a sua ética e para ver como, em uma situação extrema, você agiria.”

Jacqueline Resch também acalma os ânimos dos mais nervosos: “esse tipo de análise ética geralmente só é aplicada em candidatos a vagas para cargos altos.” O profissional de RH estará mais preocupado em avaliar a compatibilidade entre empresa e candidato. “Os processos expõem os candidatos a um determinado contexto e ambiente para avaliar se eles têm aderência à cultura de determinada empresa”, diz.

Em todo o caso, para Jacqueline, se a pessoa fica tão desconfortável assim com a seleção, às vezes pode ser porque ela própria não faz o perfil daquela empresa. “Não existem técnicas erradas, mas às vezes a pessoa se utiliza mal das técnicas. Se o profissional de RH escolhe um exercício que constrange o candidato, ele fez um mal uso”, afirma.

Além disso, o examinador sempre sabe com que pessoas está lidando. “O profissional de RH faz um planejamento antes da seleção, e sabe porque cada atividade está ali. Todo mundo que faz seleção sabe que mesmo a pessoa mais segura vai nervosa para o processo. Afinal, durante uma entrevista a pessoa está sempre em xeque.”

O importante, portanto, é não ficar nervoso e tentar, ao máximo, ser você mesmo - já que esses profissionais são treinados para perceber até quando a pessoa está fingindo ser algo que não é. E lembrar que, da parte de Recursos Humanos, o candidato é sempre avaliado por seus conhecimentos, habilidades e atitudes. “Não há porque ter medo do profissional de RH. É natural ir com ansiedade a uma entrevista por causa da expectativa da vaga, mas a pessoa tem que ir ali compartilhar experiências da sua vida profissional”, diz Jacqueline. Seguindo esses conselhos, na próxima entrevista de emprego que for, é só contar até dez e lembrar que bichos de sete cabeças realmente não existem.

FONTE: http://revistaepoca.globo.com/

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